domingo, 7 de outubro de 2007

Che, "Ches", ontem e hoje, grande mídia e Emir Sader

Reunindo duas pequenas entrevistas, realizadas uma pela FolhaOnline, e outra pelo portal G1, da Globo, hoje eu falo de socialismo, Che Guevara, perspectivas revolucionárias, e etc hoje em dia.

Na primeira, a jornalista Sylvia Colombo, ao conversar com ninguém menos que o historiador Eric Hobsbawm, escreve asneiras sobre o socialismo, mostrando a visão em voga hoje em dia, que liga a utopia socialista, e a teoria de Marx, Engels, e seus seguidores, às experiências autoritárias na URSS, na Ásia e em Cuba, como se aqueles sonhos sinceros dos operários de outrora escondessem um rabo e um tridente diabólicos, como pintava ridiculamente a propaganda anticomunista do século XX.

Já o cientista político Emir Sader é o segundo entrevistado, que também não deixa de falar suas asneiras, só que da parte da velha esquerdona da geração 60/70. A diferença é que ele diz que Evo Morales e Hugo Chávez são "descendentes" de Che nessa nova onda "revolucionária" da América Latina.

Cruzando as duas entrevistas, ou melhor, as perspectivas das duas entrevistas, vê-se, primeiro, que os projetos de esquerda, hoje, são tomados como dinossauros, e os seus defensores são tidos como tão "estrambólicos", que já se tornaram peça de museu para a grande mídia. Ou seja, à parte os novos tempos, o liberalismo conseguiu triunfar sobre as utopias de libertação das classes oprimidas. Hoje a perspectiva de interação de ONG's com comunidades carentes é a mais "pós-moderna" possível. As grandes causas sumiram. A solidariedade nacional e internacional sumiu, e, em troca, temos os "intercâmbios culturais" de indivíduos-mostruários. A experiência hoje é individual, não mais coletiva. As lutas são por causas pontuais, como a salvação das lontras do Afeganistão, ou da tribo Ula-Ula do Sudão Eurasiano.

Um ponto positivo dos "tempos modernos" foi o sumiço dos figurões, dos líderes. Sim, as pessoas, até que enfim, estão começando a pensar e agir por si mesmas. Pena que tudo isso esteja caindo num individualismo estéril, de redes de amigos virtuais, enquanto não se conhece o rosto do vizinho. Por que não fragmentar os movimentos e unificar as causas? Hoje em dia os partidos não servem para mais nada, além de sustentar uma estrutura podre de poder e corrupção. Não há espaço para um Partido Comunista. Mas acho que também não há espaço para um novo Che, e nem para Evo, e nem para Huguito.

Não há ditadura benemérita, não há boas intenções. Disso o inferno está cheio, e Hitler estava imbuído das "melhores" quando resolveu proteger o sangue alemão daquilo que, para ele, era a "ameaça judia". Será a democracia estadunidense o melhor modelo? Ou a volta do socialismo soviético? As pessoas estão no século XXI, e ainda pensam com a mentalidade do século XIX.

Corrijam-me se eu estiver errado, mas quando, na Revolução Russa, os soviets, ou seja, os conselhos locais, começaram a ter poder, a liderança central revolucionária tratou de acabar com eles, mantendo-os só no nome pomposo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Aí o debate "centralização" versus "fragmentação". Assembleísmo e centralismo. E o poder do povo? E o poder PARA o povo?

Partidarismo político é um atentado contra a inteligência do povo. Quanto mais ideológico for o partido, maior é o crime de lesa-sapiência. Mas um sujeito se vestir de panda e desfilar em Londres pela salvação dos ursos chineses é dose. Até pode haver sinceridade por parte do "dozelo", mas será que ele pensa que a sua gota de água vai realmente ajudar, um mínimo que seja, a apagar o fogo da floresta, e a mudar o mundo? Ou é só uma forma de ele dormir tranquilo, compensando o fato de ele participar de um fundo de pensão qualquer, que investe em empresas escravistas, de armamentos, altamente poluidoras, ou tudo junto?

Estamos todos num merdeiro interligado. Se colocamos nosso dinheiro na poupança, ele pode ser aplicado em alguma empresa acima mencionada. Se compramos um computador ou qualquer outro bem eletro-eletrônico, assim como tênis, roupas, brinquedos, eles podem ter sido feitos por semi-escravos chineses, bancados pelo nosso suor sagrado de trabalhadores explorados.

A luta é local. Não adianta grasnar contra o FMI, pichar "Fora Bush", que não dá certo. Só suja a cidade. Quer fazer algo? Monte um grupo de alfabetização você mesmo. Monte um grupo de aprendizado profissional você mesmo. Junte uma galera disposta. Monte cooperativas. Monte redes de comunicação entre as comunidades da própria cidade, e entre as cidades. Monte jornais, informativos, panfletos, manifestos, divulgue! Aprenda e ensine todas as legislações. Não espere por um Che Guevara, por um Evo Morales, por um Hugo Chávez, ou um Lula. Eles tiveram sua vez na história, agora são passado. Hoje é a vez dos grupos, das comunidades, dos Josés e das Marias.

Socialismo é isso aí: participação popular! Vamos construir nós mesmos. O capitalismo nos deu, e nos dá, uma tecnologia fabulosa. Esquemas e padrões de qualidade fenomenais. Formas de expansão da capacidade das realizações humanas nunca antes vistas. E o que fazemos? Usamos para entretenimento. Não serei aqui aquele médico tabagista que recomenda ao paciente que pare de fumar. Mas, por favor, se forem discutir socialismo de forma séria, saiam das cadeiras da Academia, e partam para a ação prática. Chega de teorias. Chega pensar. Como disse o bom velhinho há mais de 150 anos, já se pensou muito até hoje, agora resta-nos agir!

Power to the people!

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